07 setembro 2005

dias e notas na Bulgária, parte II

- Ontem, a noite foi diferente. Nunca estive bêbado. Ontem, nunca estive tão bêbado - isto num barbecue na praia. Resultado fatal (e divinal) da combinação de erva "do marroquino" (assim disseram os amigos búlgaros) com um cocktail misterioso dentro de uma melancia escavada com várias palhinhas e devido ao facto de me terem dado a beber "Rakia", bebida típica búlgara com uns 50 volumes, a qual bebi alegremente pela garrafa uma série de segundos (se eu não gosto de álcool e fiz isto alegremente significa que já devia estar bem aviado nessa altura).
Fiquei tão.. alterado, tão sem filtros, tudo era sentimento, sentia inspiração - tanta! (o álcool faz isto? tenho de passar a beber - mais uma vida perdida :P ) - mas apesar de tudo, a luzinha no canto da mente não me deixou contar de mais. Contar coisas que eles não entenderiam, talvez. Como quando perguntavam porque (e o que) escrevinhava tão intensamente naquele bloquinho de notas que levava sempre comigo. *
Não parei de escrever. Escrevi com uma determinação e uma fluidez que raramente encontro em mim. Eu estava ali. Cru. Ao alcance de mim mesmo. Não podia desperdiçar a oportunidade. Tudo o resto era secundário naquele momento. Entrei em exclusão social e escrevi até a tinta da caneta acabar - e mesmo assim continuei a escrever sem parar, sem parar, sem parar...


(*) Coincidência ou não de ter ficado sem filtros, quando o meu bloquinho andou a circular por algumas mãos a meu pedido, para escreverem algumas palavras em búlgaro cirílico, alguém escreveu na contra-capa "Probably if you are your self you are the best person in the world". Não sei quem foi que escreveu isto...


- um poemazinho que escrevi numa das viagens de autocharro.. oops, autocarro:


Não há porquês
Há que fazer
E isto não é tudo,
Sempre ficaremos sós.

Se a maré dos pesadelos
não recuar,
Talvez eu recue.
Porque será, pergunto-me?

Amanhã já é dia
Agora cantam os grilos
"Não há porquês, não há porquês, não há porquês"

No jogo do amanhã,
o sémen do universo
dita os porquês e a certeza
a insustentável certeza de que
morre-se sempre sozinho

Não há porquês, não há porquês, não há porquês...


- Está a chover a potes. Apetece-me ouvir a música "Águas de Março" (aquela versão interpretada por Tom Jobim e Elis Regina) enquanto vejo a chuva a cair - a paisagem verde-cinza vista através da água a escorrer do vidro convida a tal. O clima aqui é inconstante; tanto pode estar um sol radiante e umas poucas nuvens como pode desabar (literalmente) uma chuva tropical durante 20 minutos. Por causa disso tive um momento engraçado de tree-hugging hoje em Sofia, estava só de sandálias; calcões e t-shirt, debaixo de uma árvore grande a tentar não me molhar muito (estava com a máquina. Senão, deixar-me-ia ensopar).


- Partimos para Burgas. Estamos na estrada a atravessar um gigantescozorro campo de girassóis. Parecem estar mortos - ou pelo menos fingem bem... Todos a olhar para o chão com um olhar cabisbaixo - hoje não há sol. Estamos a chegar a Burgas.

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Tb adorava ir à Bulgária. Já agora de musica há por aí alguma coisa interessante? tenho descoberto algumas coisas interessantes no paises mais a norte (polónia, letonia, estonia...) daí não conheço mesmo nada.

9/07/2005 7:43 da tarde  
Blogger Kurtz said...

Descobri que o fenómeno "pimba" não existe só em Portugal. Apesar da música ser diferente (mas não em qualidade), a apreciação é semelhante.

A música tradicional é linda. É uma mistura muito boa de influências asiáticas, com eslavas, ciganas e outras ocidentais; o que reflecte a sua etnia diversa.

abraço ;)

9/08/2005 1:04 da manhã  

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